12 setembro 2008

Província russa tem feriado para casais procriarem

Elisa Estronioli, do UOL Notícias em São Paulo

Em um esforço para reverter as baixas taxas de natalidade, o governador da província russa de Ulyanovsk, Sergei Morozov, decretou a data de hoje "Dia da Concepção". A idéia é incentivar os casais dessa região da Rússia Ocidental a tirarem o dia livre para fazer sexo.

A data foi instituída em 2005 e escolhida por preceder em exatos nove meses o dia nacional da Rússia, 12 de junho. Sob o slogan "Dê à luz um patriota", a campanha agracia casais que tiverem filhos exatamente no 12 de junho com brindes como televisores, máquinas de lavar, geladeiras e - o grande prêmio da última competição - o jipe UAZ-Patriot, de fabricação russa, que é oferecido a um casal eleito por uma comissão.

Esse tipo de iniciativa inusitada evidencia a situação demográfica alarmante da Rússia contemporânea. Desde o colapso da União Soviética, em 1991, a Rússia vê sua população diminuir drasticamente, com um declínio médio de 700 mil habitantes por ano. Uma projeção feita pela ONU em 2006 colocou o país na quinta posição entre os países industrializados que mais devem perder população no intervalo de 2007 a 2050, devendo chegar a pouco mais de 100 milhões de habitantes dentro dos próximos 40 anos.

Para o cientista político Christian Lohbauer, há dois principais motivos para essa queda, diretamente relacionados à adoção no país do sistema capitalista. Com o fim da União Soviética, os russos - inclusive as mulheres - entraram em um regime de competição de mercado, onde não há espaço para criar muitos filhos. O capitalismo também veio acompanhado de uma cultura de consumo, que encarece o custo de vida. Com uma taxa de natalidade de 11,03 nascidos vivos por mil habitantes, menor que a taxa de mortalidade de 16,06 mortes por mil habitantes, a Rússia registra crescimento populacional negativo de -0.47% (estimativa para 2008 do CIA World Factbook, publicação da agência de inteligência do governo norte-americano). A taxa de fecundidade (número de bebês nascidos pelo número de mulheres em idade fértil) é de apenas 1,4 - quando o mínimo para garantir a estabilidade da população é 2,1."O que ocorre na Rússia é o mesmo que se passou na Itália, França, Espanha, quando se modernizaram", avalia Lohbauer.

O resultado da baixa taxa de fecundidade, aliado ao aumento da expectativa de vida, é o envelhecimento da população, com duas conseqüências econômicas diretas: a diminuição da força de trabalho (representada pela população jovem) e o aumento dos custos da previdência, devido ao desequilíbrio entre a população economicamente ativa e a aposentada. "Outra conseqüência da diminuição da população é política, pois a Rússia pode ter que passar a 'importar' mão de obra de repúblicas da Ásia Central e até do mundo Árabe", afirma Lohbauer. Daí podem surgir problemas relativos a discriminação. "Para os eslavos, os não-russos são chamados de 'negros'", diz. Além da baixa taxa de fecundidade, um agravante para a perda de população é que a Rússia possui uma das mais altas taxas de suicídio do mundo, com 32,2 por cem mil habitantes, na frente de países como o Japão, com 24,2 suicídos por cem mil habitantes (dado da Organização Mundial da Saúde para o ano de 2005).

Incentivo financeiro

Tal situação levou o presidente Vladimir Putin a estabelecer em 2006 um plano para reduzir a queda da taxa de natalidade dentro de dez anos. O principal instrumento é oferecer incentivos financeiros para encorajar as mulheres a terem filhos - principalmente mais de um."A Itália fez o mesmo e o efeito não tem sido relevante", comenta Christian Lohbauer. "Uma das maneiras de criar um ambiente de baby boom é através do crescimento econômico bruto, que não é previsto porque a economia da Rússia é baseada em extração de petróleo e gás, sem muitos setores industriais fortes. As perspectivas não são atraentes e a população tem percepção disso".

Atualmente, a Rússia possui hoje uma população estimada em 140.702.096 habitantes (segundo dados do CIA World Factbook) e ainda ostenta o posto de 11º país mais populoso do mundo.

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