08 agosto 2008

Mania pelo 8 inunda cartório com casamentos no dia da abertura olímpica

Rodrigo Bertolotto

Em Pequim (CHN)

Os divórcios foram suspensos na China neste dia 08.08.2008. Tudo para não atrapalhar o fluxo de pombinhos se unindo e aproveitando a simbologia positiva que o número tem a China. Só em Pequim foram mais de 10.000 casamentos em um só dia. O custo da papelada: oito yuans (R$ 2), mesmo preço da separação.

"É uma histeria coletiva, mas quisemos aproveitar a atmosfera em torno desse dia", definiu um resignado Gerard Altayo, catalão que desposou a pequinesa Qin Keman. Eles se conheceram em Barcelona, mudaram para Pequim e tiveram um filho, Yao, por aqui.

No lugar de parentes e amigos jogando arroz, eles tiveram de enfrentar os microfones dos jornalistas estrangeiros em busca de mais uma particularidade local. "Cortaram suas asas. Como você se sente?", dispara um repórter de TV brasileira. "Explique o significado do número oito?", é mais didática uma radialista britânica.

"Ba" é o som para o "oito" e para "rico" em chinês, então, a associação é lógica. A explicação vem do casal formado por Li Yang, rapaz de Taiwan, e He Qi, garota de Pequim. Eles se conheceram pela Internet, mas, como essa mídia ainda não disponibiliza casamentos online, tiveram que ir de corpo e alma para o cartório de estrangeiros (Taiwan é considerada "província rebelde" pela China comunista).

"A data e o início das Olimpíadas vão ajudá-lo a nunca esquecer a data e me presentear sempre nesse dia", brincou a noiva pequinesa. Depois de dez minutos com o escrivão, assinaram a papelada para depois eles escreveram seus nomes dentro de um coração em uma faixa do lado de fora da repartição.

A reportagem do UOL foi também a um cartório que sacramentou 1.075 casórios em um dia, no distrito de Dongcheng, o mais movimentado da capital chinesa. Após uma triagem, os casais recebiam senhas e balas (para adoçar a relação). Um salão com cadeiras suficientes para um auditório abrigava os casais à espera.

Um deles era formado por Zhao Daiwei e Zhang Hong Xia, com os dois mostrando seus "passaportes do amor" após a cerimônia (o documento é um libreto com capa dura e cor vermelha, parecendo um documento de viagem). Dentro há a foto 3x4 dos parceiros juntos. E a data 08.08.2008.

"Isso é o fechamento de um negócio. Um contrato de exclusividade", ironizou Zhao exibindo a papelada. Os dois farão festa só no domingo, dia 10. Foram para o cartório sem testemunha nem nada, afinal, na China não é preciso. "Nossos parentes estão mais preocupados hoje com a abertura dos Jogos", confessou Zhao.

Para fechar o ritual, os casais, com um botão de rosa vermelha na mão, posam na frente de um arco com balões em branco e cor-de-rosa (esta última cor associada tradicional ao casamento no país).

O branco, por outro lado, é visto tradicionalmente como a cor da morte na China, mas com a invasão da cultura ocidental após a abertura econômica essa interpretação está mudando. Muitas noivas adotaram o vestido longo nessa cor, mas isso para o álbum de fotos, a ser produzido talvez meses depois da parte burocrática e a festa de união.

Na frente da única igreja católica de Pequim, localizada na rua Wangfujin, os casais posam para as fotos em estilo ocidental, com roupas alugadas só para os retratos. Ele de terno. Ela, de vestido, mesmo que de tênis por baixo das barras. Mas isso deve ficar para alguns meses depois, afinal, o álbum e a produção são mais caras que as festas.

No cartório nesta sexta, porém, o modelito era bem mais modesto. Liu Xin, por exemplo, foi de short e top, enquanto o namorado Li Feng estava de camisa florida. O calor não permitia maior elegância.

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